Copa é um estímulo a setores da economia
25/Out/2022
Enquanto os jogos não começam, o clima de Copa do Mundo é sustentado pela febre das figurinhas do álbum oficial lançado pela Panini em cada edição do torneio. Essa é, na verdade, uma das poucas certezas que esse momento traz - todo mundo vai colecionar e trocar figurinhas.
Enquanto varejistas se dividem entre as perdas e ganhos que o campeonato pode trazer aos negócios, o comportamento de adultos e crianças confirma que mais uma vez a Panini, fabricante das figurinhas, será só sorrisos.
Um relatório divulgado pela FIFA mostra que neste ano espera-se que a Copa do Mundo do Catar conquiste um novo marco de arrecadação para a entidade: US$ 6,4 bilhões. Neste rol, o setor hoteleiro e de eventos saem ganhando sem dúvidas, assim como, é claro, o tradicional álbum de figurinhas da Panini - distribuído em 150 países do mundo.
Na última Copa, em 2018, o faturamento do Grupo Panini foi de aproximadamente 1,14 bilhão de euros, segundo a companhia. Agora, estima-se que a empresa seja capaz de dobrar essa receita, mesmo em um cenário de recuperação econômica.
Ocorre que essa dinâmica de comprar, colar e trocar figurinhas, além de reunir multidões em shoppings e impulsionar o consumo, também tem alavancado o faturamento das bancas de jornais e revistas.
Segundo o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA), as vendas das bancas chegaram a crescer 347% na semana seguinte ao lançamento do álbum (dia 18 de agosto) em comparação com igual semana de 2021 – e continuaram fortes na sequência.
O curioso é que tudo começou em 1945 em uma banca de jornal, quando dois irmãos, Giuseppe e Bruno Panini, fundaram a Panini Brothers na cidade de Modena, na Itália, para distribuir jornais.
Donos de uma banca e uma agência de distribuição de jornais, os irmãos Giuseppe e Benito trabalhavam no escritório de distribuição quando, acidentalmente, encontraram uma coleção de figurinhas - na época, figuras de papel colados com cola - que uma editora de Milão não havia conseguido vender.
Decidiram, então, comprar o material e comercializá-lo em pacotes de dois por dez liras cada. Surpreendentemente, venderam cerca de três milhões de pacotes. Com o sucesso dessa temporada, o aprendizado adquirido e já acumulando bastante conhecimento nesse mercado, em 1961 começava a tradição de fabricar e vender seus próprios álbuns e figuras colecionáveis.
Com a ideia de produzir "figurinhas" dos jogadores de futebol da primeira divisão do Campeonato Italiano, fabricaram de forma caseira também um álbum - a imagem na capa do primeiro álbum foi a de um voleio do sueco Nils Liedholm, jogador do Milan à época, que se tornou o logo permanente do produto.
A companhia conseguiu vender nesse mesmo ano 15 milhões de pacotinhos de figurinhas. No ano seguinte, o faturamento da companhia foi ainda melhor: 29 milhões de unidades vendidas. Dois anos depois, a entrada de outros dois irmãos no negócio, Umberto e Franco Panini, deu início a uma tradição familiar histórica e inovadora.
Nessa década (1960) a empresa se torna referência no cenário esportivo e se populariza entre as crianças, passando a ser patrocinadora da Modena Volley, time italiano de voleibol masculino. Nessa época, os adesivos raros já começavam a atingir valores elevados no mercado paralelo de colecionadores.
Na época, as figuras eram apenas fotografias em preto e branco coloridas à mão, sem cola atrás. Em anos em que a televisão ainda era uma raridade e os jogos eram ouvidos apenas no rádio, finalmente os jogadores de futebol começaram a ganhar um rosto.
Foram introduzidas também figurinhas dos treinadores, fotos de grupo dos times, panorâmicas dos estádios, e até uma seção dedicada aos juízes de futebol.
A chegada do autoadesivo - Do início dos anos 1970 em diante, a companhia comprou os direitos da editora responsável pelo futebol italiano e também criou o seu primeiro álbum da Copa do Mundo da FIFA, no México. A primeira vez em que a empresa comercializava seus produtos para fora do território italiano.
Foi também nesse período que aconteceu outra grande inovação criada pela Panini - a substituição das figurinhas com cola pelos cards autoadesivos.
Chegada ao Brasil - Foi por meio de uma sociedade com a Editora Abril, em 1989, que a Panini expandiu a sua atuação para o mercado brasileiro, aproveitando a Copa do Mundo de 1990, sediado na Itália, para lançar oficialmente o seu primeiro álbum no nosso país. Na sequência, foi publicado o álbum do Campeonato Brasileiro de 1990.
Vai e volta - Apesar do sucesso, em 1988, os irmãos Panini vendem o controle da empresa para o grupo inglês Maxwell e a gestão italiana é substituída por executivos estrangeiros. Com um CEO australiano que falava apenas inglês e sem nenhuma experiência com o negócio, o declínio nas vendas levou a empresa à beira da falência em 1992.
Nesse contexto, o grupo passa da mão dos britânicos para outro grupo italiano - De Agostini - uma editora de publicações educativas e científicas. Os anos seguintes foram desafiadores. A dinâmica de compra e venda de jogadores durante os campeonatos se tornou tão constante que a produtora mal conseguia acompanhar as mudanças imprimindo novas figurinhas.
Esse movimento gerou um desinteresse por parte dos colecionadores. Entretanto, em poucos anos a Panini conseguiu reagir e se manter no mercado, investindo em novas tecnologias e inovações, como álbuns dedicados ao futebol feminino, além de diversificar com álbuns dedicados a filmes e super-heróis.
A empresa cresceu tanto que em 2013 comprou da Disney os direitos de publicar os quadrinhos de Mickey Mouse. Ao mesmo tempo, no Brasil, a Panini se tornava a editora dos gibis da Turma da Mônica.
Presente - Hoje, o Grupo Panini já se encontra presente em diversos territórios da Europa, Estados Unidos e América Latina, com distribuição em mais de 120 países e a sua linha editorial contempla não só os tradicionais álbuns, mas histórias em quadrinhos (Marvel e Disney), mangás e outras revistas.
Ainda sediada na cidade de Modena, na Itália, a Panini fatura cerca de 800 milhões de euros por ano (cerca de R$ 4,5 bilhões) e se tornou a quarta maior editora da Europa no setor infantil, produzindo mais de cinco milhões de figurinhas por ano, com cinquenta coleções de álbuns diferentes.
Álbum virtual - A Panini fez parcerias importantes com a The Coca-Cola Company e a recente associação com o Nubank para trazer conteúdos e experiências diferenciadas na edição do Catar 2022, como a opção de álbum virtual.
Nesse caso, para completar o álbum existe uma série de ações para conquistar todas as suas 434 figurinhas, tais como: códigos promocionais, pacotes diários, desafios e sistemas de trocas entre os próprios usuários para incentivar a interatividade do seu público.
Essa vivência digital, segundo a companhia, faz parte de uma grande estratégia de interação desejada pela Panini. Por meio de uma plataforma virtual, há a opção em que os fãs do futebol podem montar a sua própria escalação da Seleção Brasileira para concorrer a prêmios de acordo com a pontuação obtida.
Mercado de figurinhas - A Panini não esconde do mercado que de quatro em quatro anos tem a sua maior fonte de receita. Neste cenário, o Brasil é apontado como o país que mais coleciona figurinhas. São cerca de 40 milhões de figurinhas produzidas por dia e isso nos torna o mercado mais lucrativo quando o assunto é álbum de Copa do Mundo.
Embora incentive a socialização, essa tradição acaba por criar um verdadeiro mercado paralelo com transações em cifras exageradas. Atualmente, por exemplo, a figurinha Legends de cromo dourado do jogador Neymar - considerada a mais rara dessa edição - chega a ser vendida por R$ 9 mil na internet.
Para exemplificar o impacto dessas vendas em território nacional, apenas uma das representantes exclusivas da Editora Panini em Curitiba, a Smolka Distribuidora, estima faturar o equivalente a R$ 60 milhões com o álbum Catar-2022.
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