Escrito por José Pedro Martins.
Foto: Leandro Ferreira/Hora Campinas
Daqui a menos de um mês Campinas vai comemorar os seus 250 anos. Foi exatamente a 14 de julho de 1774 que foi fundada a Freguesia de Nossa Senhora das Campinas do Mato Grosso, oficialmente por Barreto Leme e com a importante participação do frei Antônio de Pádua Teixeira. A fundação da nova Freguesia atendia a um plano estratégico de Morgado de Mateus, que tinha o cargo mais ou menos correspondente ao atual governador, para ocupar o território, então ainda ameaçado pelos interesses da Espanha.
Dois séculos e meio de história. Oportunidade mais do que ideal para uma ampla reflexão sobre os rumos da cidade que hoje tem o décimo segundo PIB municipal do Brasil, de mais de R$ 70 bilhões segundo os últimos dados do IBGE. Campinas está à frente, portanto, da maioria das capitais estaduais em termos de produção econômica. Com seus mais de 1,1 milhão de habitantes, Campinas é a 14ª mais populosa do país, também à frente da maioria das capitais estaduais.
Campinas se projeta, nesse sentido, como um sucesso em termos econômicos, um dos três pilares do desenvolvimento sustentável, ao lado do social e do ambiental. Vários fatores explicam o desempenho econômico da cidade, sendo provavelmente o principal a sua vocação para o empreendedorismo.
São muitos os empreendedores e empreendedoras que, com visão de futuro, mostraram ousadia e determinação através dos tempos em várias áreas, da ciência à indústria, da agricultura à educação e ação social etc. Os casos de Hércules Florence, Landell de Moura e Santos Dumont são apenas alguns exemplos de pessoas com história ligada a Campinas que brilham pelo seu empreendedorismo, como inspiração permanente para a cidade.
Também pesaram no crescimento econômico e populacional de Campinas a sua localização estratégica e logística sofisticada, constituída historicamente pela presença de um dos principais polos ferroviários do país (sede das Companhias Paulista e Mogiana) e, depois, pelas importantes rodovias estaduais (Anhanguera, Bandeirantes, Santos Dumont, D.Pedro I) e o Aeroporto Internacional de Viracopos.
Outra razão para o alto desempenho econômico de Campinas é o fato de sediar um dos mais importantes polos científicos e tecnológicos da América Latina, inaugurado pelo Instituto Agronômico criado em 1887 ainda como Estação Agronômica Imperial. Depois, com a PUC-Campinas e Unicamp, foram criadas as condições para um vibrante ecossistema de ciência, tecnologia e inovação, com vários dos principais centros de pesquisa e desenvolvimento do país.
Mas e com relação aos outros pilares do desenvolvimento sustentável, o social e o ambiental?
Como uma consequência do citado empreendedorismo, Campinas tem uma vocação solidária que resultou na constituição de organizações e serviços em resposta a várias demandas sociais que surgiram ao longo da trajetória da cidade. Fundação FEAC, Centro Boldrini, Centro Corsini, Sobrapar, Penido Burnier, Casa da Criança Paralítica e Fundação Educar são exemplos dessas organizações, que se tornaram referência nacional por sua ação social em vários campos.
Permanecem, contudo, múltiplos e sérios desafios sociais em Campinas, uma cidade que durante muitos anos teve grande parte de sua população constituída por pessoas escravizadas. As consequências desse período histórico são visíveis. São enormes os bolsões de pobreza e situações de pobreza extrema, são centenas de pessoas vivendo em situação de rua, são vários grupos sociais que convivem com diversas modalidades de violência, os indicadores de educação fundamental e do ensino médio estão distantes dos ideais em uma cidade que se orgulha de seu brilho em ciência, tecnologia e inovação. Fundamental, portanto, um conjunto de ações e de redes para que Campinas avance mais no pilar social do desenvolvimento sustentável.
Do mesmo modo, são vários os desafios no terceiro eixo da sustentabilidade, o ambiental.
O Mato Grosso do nome original de Campinas se perdeu através de dois séculos e meio. Era a Mata Atlântica que cobria originalmente quase toda a faixa do litoral brasileiro até cerca de 100 km no interior. Hoje restam menos de 10% de Mata Atlântica, o bioma mais degradado em cinco séculos de história.
Campinas originalmente também tinha vegetação de Domínio Atlântico, mas hoje são menos de 5% de cobertura original no município. Ampliar de modo substancial a cobertura vegetal, com espécies nativas, representa assim um dos grandes desafios na área ambiental no município.
Além de seu enorme impacto para a preservação da biodiversidade, o plantio robusto de árvores nativas também contribuirá para melhorar as condições climáticas locais e com repercussão também na proteção dos recursos hídricos. Esta é uma das tarefas necessárias diante da urgência de preparação dos grandes centros urbanos e áreas metropolitanas, como a de Campinas, para as mudanças climáticas que tendem a agravar os episódios extremos, como se viu recentemente no Rio Grande do Sul.
Com seu porte e recursos, a cidade também pode contribuir com o esforço planetário de enfrentamento das mudanças climáticas, com ações mais ousadas na descarbonização da economia e redução das emissões de gases de efeito-estufa. Aprimorar o transporte público com combustíveis renováveis, ampliar as redes de ciclovias e avançar em construções inteligentes em termos de água, resíduos e energia são algumas possíveis e necessárias frentes de atuação nesse sentido. Por sua vez, o polo científico e tecnológico campineiro também pode vir a contribuir cada vez mais em soluções para a vital transição energética e outras demandas da sustentabilidade.
Em resumo, aos 250 anos Campinas tem muito a celebrar. E também tem muito a refletir e agir para que o respeito à vida seja pleno e os direitos de cidadania, efetivamente respeitados para todos e todas.
José Pedro Martins é jornalista, escritor e consultor de comunicação. Com premiações nacionais e internacionais, é um dos profissionais especializados em meio ambiente mais prestigiados do País. E-mail: josepmartins21@gmail.com
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